Alice Cooper no Brasil: O Show que Virou Lenda em 1974

Imagina só: 158 mil pessoas espremidas no Anhembi, numa época em que a ditadura militar ainda mandava e desmandava e o rock internacional era praticamente um bicho de sete cabeças no Brasil. Foi exatamente isso que rolou em 30 de março de 1974, quando Alice Cooper no Brasil fez história e botou o país no mapa do rock mundial.

A banda chegou aqui no auge da carreira, com “Billion Dollar Babies” ainda quente nas paradas, e meio que não sabia no que tava se metendo. “Simpático e sorridente, ele tomou cerveja brasileira e disse que seu desejo era se divertir aqui”, conta as revistas da época. E cara, ele se divertiu mesmo – tanto que até hoje fala desse show como um dos mais marcantes da carreira dele.

O Brasil dos Anos 70: Rock em Tempos de Censura

Pra entender a dimensão do que aconteceu, é preciso voltar no tempo. Em 1974, o Brasil vivia sob o governo Geisel, e o rock internacional ainda era visto com desconfiança pelos militares. “O Brasil era governado por militares e ninguém queria saber de uma figura como eu por perto”, relembrou Cooper anos depois. Imagina só: um cara que fazia show com guilhotina, cobra e sangue fake chegando num país onde censurar música era rotina.

A coisa ficou tensa já na chegada. Alice Cooper desembarcou no dia 28 de março no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, e logo rumou para São Paulo, onde chegou ao meio-dia em Congonhas. No dia seguinte, uma coletiva virou a capital paulista de cabeça pra baixo. O cara chegou uma hora atrasado porque centenas de fãs seguiram o carro dele do hotel San Raphael até o restaurante na Rua Sete de Abril onde seria a entrevista.

Chama atenção como a própria imprensa da época já sabia que aquilo ali ia ser histórico. Era a primeira turnê dele pela América do Sul, e o Brasil estava sendo usado como laboratório pra ver se rolava expandir o rock teatral por aqui.

A Noite que Entrou para a História

O show em si foi épico demais! Em 30 de abril de 74, 158 mil pessoas, público recorde para a época, foram ao delírio quando Alice surgiu em meio à uma nuvem de bolhinhas de sabão, para cantar “Hello Hooray!”, “Billion Dollar Babies”, “I love the Dead”, “School’s Out”, entre outras. Cara, só de imaginar aquela multidão no Salão de Exposições do Anhembi já dá arrepio.

A capacidade tornou-se um problema quando Alice e a banda subiram ao palco – e olha que isso não é força de expressão não. O negócio ficou tão lotado que virou caso de segurança pública. Até hoje ninguém bate o martelo sobre o número exato de pessoas que estavam lá: “Fala-se em 80 mil, 100 mil e até 158 mil pessoas! Um mar de pessoas”.

A banda de abertura, Som Nosso de Cada Dia (não “Our Daily Bread” como saiu em algumas revistas gringas), segurou a onda do público que já tava doido pra ver o Alice. Cantou vestido de preto com machado na mão, uma réplica de cobra e sangue artificial na roupa – exatamente o que a galera esperava do cara que tinha emplacado “School’s Out” dois anos antes.

O Legado que Ficou

Esse show do Alice Cooper no Brasil abriu as porteiras pra uma geração inteira de artistas internacionais. “Foi o primeiro show internacional de rock no Brasil”, como o próprio Cooper gosta de lembrar. E cara, “ainda está no Guinness Book como o maior público em local fechado de todos os tempos” – isso é coisa séria.

O mais legal é que Cooper nunca esqueceu dessa passagem pelo Brasil. Décadas depois, ele ainda fala com carinho daquele show e da energia do público brasileiro. “Ainda me lembro da energia incrível dos fãs”, disse numa entrevista recente.

Na real, aquele show foi muito mais que entretenimento – foi uma declaração de que o Brasil tava pronto pra receber o que havia de mais moderno no cenário musical mundial. Alice Cooper no Brasil em 1974 não foi só um concerto, foi o marco zero do rock internacional no país. E olha, até hoje a gente tá colhendo os frutos daquele momento histórico no Anhembi.

Se você é fã da banda, poderá acompanhar eles em solo tupiniquim do dia 14 de junho no festival Best of Blues and Rock.